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quarta-feira, 23 de maio de 2012

CRB NACIONAL,

Caminho para o discipulado missionário 

Caminho para o discipulado missionário Publicado em 22 de maio de 2012 na Seção: Entrevista, Liderança, Página Inicial Caminho para o discipulado missionário
 Para refletir sobre a presença e a vocação das religiosas e religiosos no mundo, a revista Paróquias & casas Religiosas convida Ir. Márian Ambrósio, IDP – Presidente da CRB (Conferência dos Religiosos do Brasil), para esta entrevista, onde ela apresenta os valores sempre atuais da Vida Religiosa, apontando-a como sinal de uma experiência e testemunho de vida de homens e mulheres que se consagram a Deus e ainda faz uma leitura sobre as atividades missionárias assumidas no Haiti, e a fecunda participação nos organismos institucionais ligados ao dinamismo de todas das inúmeras comunidades daqueles que professam publicamente os Conselhos Evangélicos.
A presença dos religiosos no ‘mundo’ é sinal da fecunda ação de Deus na vida do consagrado e da consagrada. Por isso, como observar a prática dos conselhos evangélicos em uma realidade pós-moderna?
A Vida Religiosa Consagrada é, por natureza, testemunhal. A palavra Consagração, em sentindo bíblico, quer dizer ‘separação’. Deus, autor da vida e da vocação, separa dentre leigas, leigos e presbíteros, pessoas a quem ‘separa’ para sinalizar valores de seu Reino definitivo. Nessa perspectiva, é significativo perceber o incontável número de Carismas Fundacionais, por meio dos quais o Espírito Santo suscita grupos de consagradas e consagrados para vizibilizarem por sua vida e missão, um determinado aspecto do rosto de Deus. Por meio do testemunho carismático das pessoas consagradas que vivem em diferentes Institutos (cada qual com seu carisma específico), o mundo pode ler o Evangelho de Jesus. Outro traço do testemunho da vivência dos valores do Reino está na ‘Profissão pública dos Conselhos Evangélicos de Pobreza, Castidade e Obediência’. Por muito tempo, estes votos foram compreendidos e vividos como sinal de renúncia, de ascese, da parte das pessoas consagradas. O foco da consagração ressaltava que, ao deixarem de viver determinados valores, Religiosas e Religiosos faziam uma escolha por algo melhor, superior, que afastava do mundo e aproximava mais de Deus. Com o cultivo da forte consciência de uma única vocação de todos os cristãos à mesma santidade e ao igual valor de cada vocação, a Vida Religiosa ressignifica a compreensão e a vivência dos Conselhos Evangélicos. Cada um dos três votos Anuncia um valor. Pela Castidade consagrada, anunciamos o valor absoluto e indiviso do ‘amor de Deus’ para além dos vínculos familiares, amor que nasce de nosso coração atraído de modo particular pelos que mais carecem de amor; pela Pobreza consagrada, anunciamos ‘Deus presente’ lá onde outro ser humano nada ou ninguém tem a seu lado, presença que gera partilha e gratuidade no ser; pela Obediência consagrada anunciamos que a ‘vontade de Deus’ deve ser obedecida, vontade divina que desperta a liberdade fundamental para o envio missionário e solidário. Os ‘Conselhos Evangélicos’ estabelecem uma relação nova, não mais somente com as coisas (dinheiro, corpo, lugar), mas uma renovada relação com as pessoas que clamam por seu direito fundamental de viver com dignidade.

Quais motivos levaram a CRB Nacional se dedicar em uma ação apostólica em terra estrangeira, como o Haiti?
A motivação para qualquer resposta missionária da Vida Religiosa Consagrada é sempre a mesma, e é fundamental – compreendemos a missão como engajamento na paixão missionária de Deus. Buscamos ouvir os apelos de Deus, lá onde a vida clama. A CRB Nacional é uma Conferência de animação e coordenação da Vida Religiosa Consagrada, e há muito tempo motiva as Congregações a uma presença profética e solidária em lugares de fronteira. Foi assim em direção ao Nordeste do Brasil, em direção à Amazônia, em direção à África, em direção ao Timor Leste, primeira experiência intercongregacional além fronteiras. Imediatamente após a catástrofe produzida pelo terremoto de janeiro de 2010, a CRB iniciou o processo de conscientização e preparação e envio de uma comunidade missionária. Esse projeto é da Igreja do Brasil, pois congrega as grandes forças missionárias da Igreja do Brasil, e representa todo o povo brasileiro que o mantém, por meio da coleta realizada pela Caritas Brasileira.

Como se formou a comunidade de religiosas e religiosos brasileiros para atuar junto ao povo do Haiti?
 Os primeiros sinais de que haveria uma comunidade religiosa intercongregacional no Haiti, vieram das próprias religiosas, mulheres corajosas que se apresentaram para o envio. É gratificante sentir, tocar esse espírito de doação e iniciativa. Os passos seguintes foram consequência destes “sim, eu vou”, que se multiplicaram. Os critérios que orientaram o envio das seis primeiras missionárias que lá se encontram hoje, foram: vocação missionária, capacidade de aprender outros idiomas, conhecimento e experiência nas áreas da saúde e/ou pedagogia, escolha livre pela vida do povo haitiano. As Irmãs vivem em um bairro de Porto Príncipe, em comunidade religiosa intercongregacional, e se dedicam integralmente à defesa da vida do povo, principalmente na luta pela superação da fome extrema. Acima de tudo, testemunham o amor de Deus por quem tanto precisa dele e de nós. 
Sabe-se que em algumas reuniões de Conferências Episcopais as Conferências dos Religiosos participam com voz, mas não voto, qual a participação da CRB nas assembleias da CNBB? 
A CRB Nacional valoriza e cultiva intensa comunhão com a CNBB. Institucionalmente, o vínculo mais direto se dá por meio da Comissão Episcopal para Ministérios Ordenados e Vida Consagrada. Esta Comissão designa um Bispo para o acompanhamento da Vida Religiosa Consagrada e o diálogo, é o caminho da aproximação. A Presidente da CRB Nacional participa normalmente de todas as reuniões do CONSEP (Conselho de Pastoral) e do Conselho Permanente da CNBB, com atuação responsável e propositiva. O fato de não ter direito de voto é normal e natural, basta lembrar que, em Assembleias da CRB, votam igualmente somente Superioras e Superiores Maiores. A razão primeira de toda a participação integrada entre os Organismos do Povo de Deus é a vivência e o testemunho de comunhão, na Igreja que somos nós, para a sociedade junto aos quais nos inserimos em missão. 

Em uma linha de vanguarda a CRB já nasceu com conferências das Religiosas e dos Religiosos, o que pode sinalizar isso?
 Exatamente. Desde seus primeiros dias, a CRB Nacional levantou a bandeira da renovação, da integração, da questão de gênero, da comunhão. Sempre foi significativo para a CRB Nacional, o fato de o centro de todos os Projetos ser seguimento de Jesus e o compromisso com o Reino. Essa postura é fundamental para todas as Instituições. Com um projeto central claro e definido, todo o restante se torna consequência. Quando se contempla a logomarca da CRB Nacional, se percebe a riqueza das duas mãos que se levantam unidas em direção ao alto que, por sua vez, está aberto ao infinito. Essa disposição para a centralidade comum continua sendo um princípio fundamental da CRB Nacional.
 Que relação mantém a CRB com a CLAR (Confederação Latino-americana de Religiosos e Religiosas da América Latina e Caribe), a UISG (União Internacional das Superioras Gerais) e USG (União dos Superiores Gerais)? 
A relação com a CLAR é imediata, isto significa uma relação direta, de primeira hora. A CRB foi parceira privilegiada na criação da CLAR, atuando diretamente nos processos de reflexão teológica e bíblica. Representantes da CRB exerceram sempre funções de corresponsabilidade em todas as instâncias – da Presidência à assessoria e secretaria executiva. A CRB tem sido anfitriã de muitos processos de reflexão e de elaboração de subsídios, além da realização de Seminários e Congressos. O atual Presidente da CLAR, Irmão Paulo Petry, religioso de La Salle, brasileiro, foi eleito enquanto era primeiro vice-presidente da CRB Nacional. A relação com a UISG, União Internacional das Superioras Gerais, se apresenta por meio da USG-CB, União das Superioras Gerais de Fundações Brasileiras, um dos setores de destaque da CRB Nacional. Ainda nesse ano, nos últimos dias do mês de novembro, a Cidade de Aparecida sediará uma Sessão ampliada da UISG, como espaço de conhecimento de experiências significativas da Vida Religosa no Brasil. A relação com a USG se faz diretamente por meio da participação dos Superiores Gerais das Congregações masculinas associadas à CRB Nacional. No Brasil, existe um número pequeno de Sedes Gerais Masculinas, o que pode significar menor vizibilidade dessa União, sem que isso diminua o sentido da pertença e da comunhão. 

Para finalizar, como a senhora analisa a vocação e a presença dos religiosos e religiosas no Brasil, hoje?
 A Vida Religiosa Consagrada no Brasil vive hoje um momento histórico de fortalecimento de sua identidade. Principalmente a Vida Religiosa Feminina foi reconhecida, por vários séculos, pela sua atuação em âmbitos de Ação Pastoral, de Ação Apostólica e de Ação Social. As marcas da presença e da atuação nestes espaços permanecerão indeléveis. Hoje, porém, inseridas em outro paradigma sócio-político, emergem outros cenários que desafiam a Vida Religiosa, novas fronteiras que consideramos espaços de missão. Lugares onde a vida está ameaçada antes de conhecer a luz, onde Jesus é desconhecido, onde as relações estão quebradas, onde os direitos humanos são desrespeitados. Podemos afirmar que a Vida Religosa vive o privilegiado momento do discipulado missionário.
FONTE:  http://revistaparoquias1.hospedagemdesites.ws/?p=3551

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